quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Catecismo na Catequese


A caminhada e mudança do sentido da catequese acontece dentro de um tempo, por isso que no século III e IV a Igreja peregrina se vê mergulhada em situações altamente periculosas, ou seja, ameaça das heresias, e pensamentos fora da idéia da comunidade primitiva, que exigem dela uma nova postura no modo de anunciar a pessoa de Jesus e de formar os cristãos. “A catequese consegue sua maturidade no século IV. Alcança um desenvolvimento surpreendente nesta época. [...] defrontando-se com um problema novo, a Igreja sua catequese”. (ROCHA, 1989, p. 149). Nesta ocasião se percebe já o surgimento do catecumenato (preparação para o Batismo), que estrutura-se em etapas precisas e com conteúdos progressivos, tendo como meta a inserção nos mistérios da salvação. O importante para Igreja era admitir aos sacramentos de iniciação cristã as pessoas que abraçassem verdadeiramente a conversão, dando prova do seu testemunho de vida no tempo de formação na catequese.

O batizando após o rito litúrgico recebe a graça de participar do projeto salvífico de Deus (Jo 3,11-15), sendo assim admitido na comunidade. Iniciação cristã para Igreja é pensada como um processo de amadurecimento da fé do cristão, considerando também recebimento dos sacramentos da eucaristia e confirmação. Na Igreja todo batizado é chamado anunciar a Cristo, segundo os próprios dons e funções exercidas na sociedade. Portanto, ninguém pode ser acolhido sem a devida preparação.

A catequese tem em si por finalidade a confissão da fé. “Quando o catequizando é capaz de confessar a fé com toda a sua vida, isto é, com sua mentalidade, memória e inteligência, coração, palavra e ação, o processo catequético chegou a seu ápice” (PEDROSA et. al., 2004, p. 518). Daqui nasce o compromisso com a pessoa de Jesus Cristo, centro da catequese patrística, apontado como a verdadeira referência para a vida de todos os seres humanos; sentido fundamental para onde converge toda a intenção da ação humana na catequese, permitindo ao fiel fazer na caminhada a declaração de fé madura.

O período mais recente do catecumenato é na verdade os séculos IV e V, pois neste tempo a marca do modo de fazer catequese caracteriza-se pelas circunstâncias particulares das conversões em grande número. A catequese batismal é marcada por uma catequese de adultos, cada vez mais desenvolvida, tempo correspondente ao começo da Idade Média. Este evento relaciona-se com a conjuntura do Cristianismo, que deste então se achava em pleno alargamento a instrução dirigida aos adultos. A catequese de adultos encaixa-se, com a pregação missionária, conforme se designasse a Judeus ou pagãos. Era mister aos judeus anunciar o Cristo que é o Messias, porém, aos pagãos ensinava-se a doutrina de um Deus único e o abandono dos ídolos, fazendo-os conhecer a lei moral cristianizante.

A proposta do processo catecumenal constava de vários elementos, para melhor preparar o catecúmeno, realiza-se uma formação consistente na catequese inicial, cuja meta é apresentar um panorama geral da doutrina. Conforme Jungmann (1967, p. 20), em Santo Agostinho, encontramos esta metodologia em seu tratado “De catechizandis rudibus”. Para o Bispo de Hipona o catequista tem como missão apresentar a doutrina revelada de modo narrativo, ou seja, passando da história de Adão até o conhecimento do Cristo ressuscitado; para Santo Agostinho a alegria (hilaritas) deve contagiar a catequese.

Na Idade Média a Igreja experimentou muitas influências dos novos modos de pensar o cristianismo, exclusivamente em nível moral, espiritual e cultural, tocando fortemente a liturgia com auxílio da arte, onde a vida do povo encontra-se mergulhada profundamente dentro de uma atmosfera religiosa. Para preservar e conservar a fé, a sociedade evidentemente cristã sentiu a necessidade de ir aos lugares da fé (peregrinações a Terra Santa).

Agora o ocidente é completamente cristão e, frente a este florescimento religioso e cultural, o pensamento teológico ganhou novo ardor com o desenvolvimento da teologia escolástica por influência de Santo Tomás de Aquino, surgindo também às grandes universidades, onde fé e razão se ligam entre si. A Idade Média se caracteriza pelo seu objetivo Teocentrismo, propriamente dito; percebemos que a formação catequética fixa-se nas homilias dominicais e pregações, situação que de algum modo trará sérios problemas a formação catequética. Diante da necessidade de orientar grupos cada vez maiores, o ato de pregar multiplica-se por causa das festas, novenários, tempos do Advento e da Quaresma. Em geral este era o meio principal de educar as várias idades nesta realidade cristã.

No século XVI vê-se uma mudança repentina na história da catequese, no bojo da idade moderna marcada sobre os ideais de liberdade e igualdade na Europa. A Igreja se vê constrangida por causa das contestações que fora suscitada pelas idéias de Martinho Lutero (1483-1546), com a Reforma Protestante. Lutero então publica as suas 95 teses sobre as indulgências em 1517, fato que marca o início da revolução protestante.

Sintetizando, apresentamos os pontos essenciais do pensamento teológico do luteranismo: A escritura contém toda a verdade revelada por Deus, (sola Scriptura); baseado no trecho da carta aos Romanos 1,17: “Porque nele a justiça de Deus se revela da fé para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé”, Lutero fundamenta então o axioma justifcatio sola fide. Rejeitando a existência de uma Igreja hierárquica, negando de modo claro o primado do papa, Lutero pregará a salvação pela graça (sola gratia). Estas três máximas de Martinho Lutero fortalecem a criação do seu próprio catecismo. “Os catecismos de Lutero, cuja intenção é construtiva e pastoral e não polêmica são ricos de piedade, de espiritualidade, de proximidade da Sagrada Escritura; e conheceram uma enorme difusão” (BOLLIN; GASPARINI, 1998, p.111).

Com êxito do pensamento Luterano, a Igreja reage com a Contra Reforma, realizando o Concílio de Trento (1545-1563), onde a sua obra doutrinária fora constituída essencialmente como uma resposta as afirmações protestantes. “O Concílio de Trento obrigou os bispos a providenciar para que, pelo menos nos domingos e dias de festas, houvesse catequese para as crianças em todas as paróquias” (JUNGMANN, 1967, p. 31). Nas escolas era preciso observar o ensino da religião, que envolvia apresentação da história da salvação, os dez mandamentos, os artigos da fé e a vida dos santos. A fiscalização sobre a condução do ensino religioso pelo professor ao aluno torna-se ponto de preocupação para a hierarquia.

O Concílio de Trento trouxe para Igreja um novo impulso à catequese, no momento em que se pede o zelo pelo ensino ao povo, porém, é preciso fazer mais, pois em algumas dioceses se acentuou de forma tão exagerada a atenção às crianças, que se esqueceram dos adultos, que praticamente tiveram que se adaptar com uma instrução básica. Em nível de consistência na catequese, parte da obra doutrinal da sessão VII do referido concílio baseou-se nos sete sacramentos, já que os protestantes haviam reconhecidos apenas o batismo e a eucaristia.

Segundo as orientações do Concílio de Trento é publicado em 1566 o Catecismo Romano, que si divide em quatros partes: O Credo, o Decálogo, os Sacramentos e as Orações, que de certo modo é reconhecido até os nossos dias como um material para uso do clero. “Nos séculos seguintes, serviu de inspiração a numerosos catecismos, que fizeram pequenas adaptações, mas não conseguiram manter solidez do Catecismo Romano e não o atualizaram” (DNC 124). Sobre o Catecismo Romano podemos afirmar que é escrito como a voz viva da Igreja, base doutrinária para as pregações e catequeses dominicais, destacando-se a cura de almas. Um catecismo expõe as principais verdades da fé, escrito, em forma de perguntas e respostas.

No rigor da palavra o Catecismo Romano não é um livro simbólico, nem uma profissão de fé que se imponha ao assentimento de todos os fiéis. [...] Sob o ponto de vista meramente científico o Catecismo Romano corresponde às pesquisas teológicas do século XVI. Na doutrina dos sacramentos, por exemplo, ocorrem algumas documentações que hoje sabemos não serem autênticas. São deficiências que não abalam a autoridade do catecismo, porque o conjunto de sua doutrina se esteia no magistério infalível da Igreja. Daí não resultam erros doutrinários, mas apenas falhas de argumentação”. MARTINS, 1951, p. 48)

Buscando responder às necessidades da época o catecismo fora aos poucos sendo implantado em alguns países católicos, salvo aqueles que tiveram dificuldades em receber a cópia do material devido aceitação particular de cada diocese pelo seu bispo. As decisões tomadas no Concílio de Trento são claras, chegando a firmar que o Catecismo Romano nos oferece uma segura definição dos dogmas, sendo contrárias as doutrinas Luteranas.

Devido à grande necessidade de se intensificar a formação dos cristãos, começaram a surgir manuais para melhor instruí-los, onde o Catecismo era composto por perguntas e respostas, compiladas, em versões reduzidas intitulados como “pequenos catecismos”, em substituição à edição completa. A publicação mais importante produzida no século XX para a Igreja é o Catecismo da Igreja Católica, considerado o livro oficial de ensino religioso completo, contento informações claras sobre os conteúdos da fé.

Como não havemos de agradecer de todo coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda Igreja, com o título de “Catecismo da Igreja Católica”, este “texto de referência” para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé. [...] este Catecismo trará um contributo muito importante àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Vaticano II. (FD 1).

Conforme vimos acima, o surgimento do Catecismo da Igreja Católica marca a vida da Igreja em termo de produção escrita, mas não podemos esquecer que ele é um texto de fé, ou seja, doutrina da fé. Podemos agora deter o nosso olhar em torno dos grandes avanços que ocorreram no interior da Igreja, para melhor compreendermos o sentido da catequética. O século XX pode ser definido como o tempo em que a catequese ganhou bastante alterações, isso por causa de um grande evento na história da igreja, Concílio Vaticano II (1962-1965). Assiste-se agora a uma renovação, sobretudo pastoral, na maneira de compreender o conceito teológico trazido pelo catecismo.


Obs: Esse texto faz parte do trabalho monográfico: CATEQUESE NA ARQUIDIOCESE DE SÃO SALVADOR: Uma análise através de um estudo de caso.

Monografia apresentada à Disciplina Monografia II ministrada pela Professora Maria Helena Rios e orientado pelo Professor Doutor Cândido da Costa e Silva como pré-requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia da Universidade Católica do Salvador.

DIÁCONO RICARDO HENRIQUE OLIVEIRA SANTANA

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cultura laica menospreza beleza interior


Bispo do Funchal deixa alertas na celebração da Imaculada Conceição

O Bispo do Funchal, D. António Carrilho, lamentou que a cultura “laica” menospreze a beleza interior, instrumentalizando as mulheres.

“A cultura laica ocidental, aliciada pelo culto da imagem, explora e sobrevaloriza a beleza física da mulher, em detrimento da beleza interior e dos seus verdadeiros valores”, disse, na celebração da Imaculada Conceição que decorreu na Sé do Funchal.

Segundo o Bispo, “Maria Imaculada é expressão da excelsa beleza de Deus, a única Beleza que liberta, transfigura e salva”.

“O homem moderno, secularizado, envolvido em preocupações científicas, tem dificuldade, muitas vezes, em aceitar as intervenções sobrenaturais de Deus, porque escapam aos seus limitados saberes. Maria, porém, iluminada pelo Espírito Santo, abre-se totalmente a Deus e entrega-se, por inteiro, à realização do Seu desígnio de Salvação”, precisou.

D. António Carrilho lembrou “a grandeza e a dignidade de cada homem e de cada mulher, criados à imagem e semelhança de Deus”.

“O corpo humano não é apenas um suporte biológico da existência nem pode ser idolatrado, maltratado ou menosprezado, como acontece, tantas vezes, na sociedade contemporânea hedonista”, alertou.

Infelizmente, disse ainda, “não faltam vítimas desta exaltação desmesurada, bem como da violência, menosprezo e aviltamento de tanta gente indefesa, que, por força de certas circunstâncias, se vê enredada em situações indesejáveis”.

A terminar, o Bispo do Funchal falou do Advento, “o tempo favorável para escutar e percorrer o caminho da Palavra, uma Palavra sempre nova e bela, que cria intimidade com Deus e com os outros”.

Este responsável exprimiu a sua satisfação pela forma como está a decorrer visita da Imagem Peregrina: “Como Bispo desta Diocese, sinto grande alegria pela ressonância, que me tem chegado, da visita da Imagem Peregrina da Virgem de Fátima, às nossas comunidades paroquiais”.

EXTRAÍDO DI SITE: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=76577